segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Resurrectione (51)

Durante anos falei de metamorfoses, fases...Mais recentemente tive um encontro de nível terceiro com uma banda chamada Nirvana. Depois vieram os A Perfect Circle. Mudei. Mudei muito, para melhor. Senti isso. Fiz isso. Depois, uns tempos depois, uma espiral alternativa de luz entrou na minha vida: Tool. Entrei deveras num estado diferente. Entre outras coisas vi sem querer, numa noite de tédio em que estava na televisão (eu que não dispenso diariamente minutos nela), um filme chamado Fight Club. E li...li vários livros. Tudo em mim se transformou. Chorei no Céu, agradecido, dando o devido valor a tudo o que tinha de bom e que poderia ainda vir a ter. As pessoas que me rodeiam dizem que tenho medo de ser feliz, e que gosto de fazer todos felizes sem nunca pensar em mim...Não é totalmente verdade. Fazer-vos felizes significa muito para mim. Caí ao inferno. Vagueei algum tempo nesses lugares onde o ar pesa, e o ar é quente. Agora?
Agora estou disposto a fazer o que fiz noutras eras. Resurrectione. Já começou. Tudo se tornou nítido. A pena, essa pena que todos gostam de sentir por outros, é um sentimento decadente, triste. Não sou nenhum doente, nem preciso de pena. Guardem-na. Da mesma forma que guardam a verdade.
Não quero cometer o mesmo erro que cometi com a Apologia do meu eu. Terminar tudo, assim do nada, ir escrevendo tristezas quase sublimes, mensagens ao deus de ará. Não quero, nem vou, porque o poder está dentro de nós. Sempre esteve, com ou sem centelha divina. Por isso, por agora retiro-me. Voltarei sempre que a necessidade de escrever algo diferente, que encaixe perfeitamente nestes números que vão caminhando para zero, apareça. Sempre gostei de sublinhar que sou trevas. Esqueço-me também é de dizer que não sou só trevas. Também sou luz. Sou o mundo, sou a contradição, sou o pior ser humano, sou o melhor monstro. Sou eu, diferente todos, igual a todos, único em coisas como todos os somos.
Resurrectione.
Deixo-vos a minha última filosofia de vida; que parecerá idiota talvez, mais uma frase igual às outras especiais, que viajam no tempo, nas culturas, aparentemente repetidas, vazia...Até podem ter razão; mas tem funcionado comigo:

Nem tudo pode correr bem.

Estarei sempre aqui, a continuar a escrever, porque é isso que sou, é isso que faço. Aqui quando chegarem as horas certas; nas narrativas de um monstro (http://versologista.blogspot.com/) e agora mais recentemente, com toda a força do mundo, com todo o orgulho do mundo, e com a melhor pessoa que poderia encontrar: Memórias De Um Monstro (http://memoriasdeumonstro.blogspot.com/).
Neste mundo só existe uma escolha pela qual vale a pena viver, e a qual faz toda a diferença: "I choose to live..." (Gravity - APC)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Sou o centro acolhedor e quente da terra..." Tyler Durden

Queria ser, mas não sou.
Epic fail, é uma expressão utilizada num jogo que já jogo há alguns anos. Possivelmente é o jogo mais jogado no planeta, mas isso agora não interessa. Todos nós temos os nossos escapes, digamos que esse é um dos meus. No entanto é essa a expressão que sinto agora na minha vida. A tradução à letra seria "falha épica", neste caso concreto o que sinto é a enorme falha que sou e que cometi. Como escrevem os London After Midgnight: we pay a price for all our choices made...e é verdade. Existem passos, ou movimentos se preferirem, na nossa vida, que podem ser recuados, corrigidos, alterados. Gosto de pensar dessa forma. No entanto, infelizmente, outros não. E é verdade desgostosa. Existem coisas que fizemos, dissemos, ou não fizemos ou não dissemos, que simplesmente já não têm cura, remédio.
O meu preço a pagar é elevado. E mesmo que não seja tudo culpa minha, o preço que pago, mesmo que dividido de alguma forma, é muito elevado. É pesado. Faz-se pesar. Sim, a minha vida continua, mas continua com esse peso. Dizem que é tudo uma questão de tempo, e contra a minha vontade noutras alturas, a realidade é que vos dei razão. No entanto, também tenho de vos dar razão noutra coisa: existem sempre excepções. E apesar de já contar com vinte e três Outonos, já tenho alguma bagagem, e o que sinto desta vez é diferente de todas as outras. E é uma única excepção que me vai pesando, que me vai travando e destravando. É muito pensamento, é muito sentimento. Isso tudo. Cause I don't want to let go, let go, let go too soon, como diz a Sara Bareilles. Talvez seja isto, não sei.
Sei que não sou o centro quente da terra. Já o senti. Já espalhei esse calor. Agora vivo, vivendo apenas, da forma que consigo.
São fotografias que não consigo apagar, são histórias que não consigo apagar. E é um conjunto de toques. Não existem palavras...é um algo que existe e que vive apenas em duas pessoas, ou que já viveu. E eu sou uma delas. E agora?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

(53)

Quero agradecer à minha irmã Joana. Talvez nunca lhe tenha agradecido como deve ser, por muitas coisas, muitas mesmo, entre elas, talvez menos agradecidas por todos os filmes ou livros que me sugere. Até agora todos eles foram maravilhosos. Os livros de um encanto fantástico, capazes de me prender, de me fazer passar o tempo de uma forma agradável. Livros que talvez no meu estado de alma normal não leria, romances, em grande parte românticos. E os filmes, todos eles, capazes de fazer sorrir, rir, e sonhar, acenar com a cabeça em momentos de romance. Na prática, todos esses momentos fazem-me sentir vivo, sentir feliz, e por momentos volto a ser esse ser humano que acredita no amor, na beleza do mundo. Obrigado, a sério obrigado. Talvez mesmo sem saberes vais colorindo a minha vida, e dando luz ao meu caminho. Queria escrever isto. Acho que precisava. Sempre quis dar valor às pessoas; e tu mereces, és a excepção à regra, como já te tinha dito. Continua assim, a colorir o mundo, porque o mundo sem ti perdia uma magia única.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pequenos deuses (54)

Não é a primeira vez que falo neles (pequenos deuses); nem é a primeira vez que sublinho tudo o que vou escrever aqui hoje. A semana passada aprendemos, ou deveríamos ter aprendido com o jogo do Benfica, (pelas razões erradas, mas também elas devem servir para algo), devemos ser sempre nós próprios, e se possível no nosso melhor; poderão sempre amar-nos com os nossos defeitos, o que é de louvar, mas será melhor conseguirmos ser nós mesmos e sermos esse nós no melhor. E hoje, nesse jogo que colocou em campo o meu país e o país vizinho, aprendemos outra lição bem importante. O medo? O medo são reticências... A potência espanhola se encontrar uma equipa sem medo à sua frente perde toda a sua força, perde o seu controlo, perde a sua jogabilidade. Para que serve ter-se medo? O medo faz-nos não correr riscos? Talvez, mas há riscos que devem ser tomados, e este jogo foi a prova disso mesmo. Sem medo fazem-se coisas espectaculares. Aproveitar também para dar os meus parabéns ao José Mourinho e ao Paulo Bento. Ao primeiro por ajudar a fazer amadurecer o famoso Cristiano Ronaldo (de quem nunca fui grande fã), e ao segundo por conseguir por-me a gritar golo novamente pela selecção. Portugal, como equipa que já foi, está a começar a estar de volta...E o medo? São reticências. Com esforço, amor, e vontade, tudo se encaixa...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Degraus - a opção (55)

Todos os dias, partindo do pressuposto que saio de casa, tenho de descer cinquenta e quatro degraus (e mais tarde tenho de os voltar a sentir, subindo-os). Se sair mais do que uma vez, é ir somando as vezes. Poderia bastar, mas não basta. Desço ou subo pequenos lanços de escadas no metro, mas o "grande" desafio, está no Terreiro do Paço. Quando se chega de metro ao Terreiro do Paço tem-se um pequeno elevador que dá para as passagens de passe e depois outro elevador maior. Estes elevadores juntos substituem (para quem quiser - todos) quatro lances de escadas, num total de mais de cento e vinte degraus. Ora...Eu não corro há meses...Infelizmente. Continuo a fumar. Ora, tento fazer o que posso, com aquilo que vou tendo. Tento andar...ou tento ir andando. E aproveito para subir, todos os dias que me desloco a essa terra cinzenta e comunista, todos esses degraus, sem nunca usar os elevadores. Vai compensando. Eu sei que eles foram inventados por alguma razão...(Pouco interessante), mas tirando por razões de saúde ou de idade, só vejo benefícios em não os utilizar.

domingo, 14 de novembro de 2010

A noite da minha amada (56)

Há muito tempo que não te ia sentir à noite. E estavas bela, como sempre, devo acrescentar. Minha Lisboa. O teu passeio despido, os que te são fiéis, mesmo em dias de alguma chuva. És perfeita de todas as maneiras. Apesar de estar nos teus braços não consegui pensar só em ti. És única sim, intensa, de sensações plurais, mas não és a única para mim. E em ti senti-te, mas não te senti só a ti...A maioria de copo na mão, a maioria a conversar, grupos, casais, grupos de casais, ninguém anda sozinho, somente aqueles que vendem rosas...e ontem também chapéus de chuva. O Raul tornou-se autónomo sentimentalmente. Está no bom caminho. Evolui. Está no bom caminho. O Varela, anda quase afogado em trabalho, mas é valente, e o sentido de humor e descontracção, (sem qualquer irresponsabilidade), prevalecem. Já está a desejar um Natal igual aos outros, passados em Coimbra. Come bem, tem a sua lareira, o seu portátil, a sua família. A Internet faz o resto: namorada e amigos. Tem sorte. Ambos tivemos de demonstrar ao Raul o quão fantástica Coimbra é...Mas ele nunca trocaria o Natal em Lisboa por outra cidade qualquer; é muito parecido comigo. Já eu?
Não bebi muito. Uma sangria...e foi demais talvez. O meu estômago anda fraco, não devo espicaça-lo mais. Frágil.
No entanto foi uma noite fantástica. Deu para tudo um pouco como sempre. Talvez tenha faltado gente. Mas quem sou eu para julgar esse facto?
Quando o mundo caminha todo, ou a maioria, na mesma direcção, é saudável caminhar contra a maré...Viva ao sentimento, viva ao momento, viva à vida.

sábado, 13 de novembro de 2010

De volta às origens - Back to basics (57)

Às vezes tornamos-nos nalgum tipo de criatura horrível. Digamos que somos nós à mesma, mas numa metamorfose que nós próprios não gostamos, nem gostamos de dar a conhecer aos outros. O que fazer então? Podemos fazer duas coisas: deixar essa criatura viver ou voltar atrás no tempo e reconstruir quem queremos ser. É como voltar atrás e escolher para voltar ser uma alma agradável.
Um dia destes passei três horas de viagem na companhia de músicas que fizeram de mim alguém especial em dadas alturas. Já não as ouvia com entusiasmo há muito tempo. Desejei, como sempre, voltar atrás, ser quem já fui. Voltar para a luz, voltar para o positivismo, voltar para uma perspectiva única.
E esqueci-me durante tanto tempo da frase "Feed my will to feel this moment...", onde andei eu? Espero não chegar atrasado à beleza da minha vida.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"I want what I want..." (58)

Frase final da música Sober, dos Tool. Às vezes (eu diria sempre) é necessário saber o que realmente queremos. Pois se não soubermos acabamos por andar ligeiramente à deriva. E isso não nos faz bem. Nada bem. E esta frase faz-me lembrar uma parte do filme "You've got mail", uma comédia romântica com o Tom Hanks e Meg Ryan, que desde já digo ser um excelente filme, em que, numa dada parte estão fechados no elevador quatro personagens. E as personagens são o Tom Hanks, a sua namorada, uma vizinha com o cão, e o empregado do prédio. Aqui surge um diálogo construtivo para o espectador, apesar de levado ao extremo. As personagens uma a uma começam a dizer o que fariam se saíssem dali. A vizinha diz que se sair dali voltará a falar com a mãe...zangaram-se e nunca mais voltaram a falar. O empregado diz que sair dali vai pedir em casamento a pessoa que ama; sabe que já deveria ter feito isso à muito mais tempo mas nunca teve coragem; e a namorada diz que quando sair vai fazer uma cirurgia aos olhos...o Tom Hanks nunca chega a falar porque a namorada interrompe-o de forma histérica, reforçando a sua futilidade. É importante sabermos aquilo que queremos.
Hoje disseram-me: Pensa bem naquilo que queres para fazeres algo em relação a isso.
Eu ri-me. Mas eu sei exactamente aquilo que quero...Tenho é medo de não o conseguir.
Disseram-me depois: que a vida é assim mesmo. Mas não deveria ser, não em certas coisas. Seja como for, descubram também vocês o que querem, e depois não se acobardem como eu, e sejam felizes!

domingo, 7 de novembro de 2010

Uma estúpida previsão (59)

Eram por volta das dezoito e pouco. Eu e o Varela estávamos a chegar perto da farmácia do Uruguai, quando ele, muito inocentemente me pergunta: então, previsões para o jogo?
Eu respondi 3-2 para o Benfica. Mas depressa percebemos que era um resultado idiota. Ele desde logo afirmou, para variar, que estava com um bom pressentimento. Então arrisquei: 5-0 para o Benfica. Isso é que era. Ele pensou um bocado e acabou por acreditar que era possível, mesmo que noutro mundo qualquer. Portanto os 5-0 ficaram gravados nas nossas pequenas almas.
Ainda tivemos tempo para o sentido de humor de duas raparigas que passaram por ele e disseram prontamente: bem vindo ao mundo dos anões. O Varela tem nada mais nada menos que um metro e noventa...
Ironia das ironias, a nossa (não estúpida na altura) previsão acabou por se concretizar. Mas de forma contrária (...). É revoltante, para um ser humano normal, ou mesmo até um monstro, ver um bom treinador, ter atitudes inexplicáveis e idiotas, como foi o caso. O Sr. Jesus, treinador do SLB, já não é a primeira vez (infelizmente), e esperemos que tenha sido a última, em jogos de grande importância faz invenções, que se têm demonstrado fatais...Fatais. Em primeiro lugar: tirar dois jogadores que jogam sempre, que já estão habituados a jogar e que são escolhidos por alguma razão; segundo: colocar um jogador que não joga há meses...e por fim, talvez a que causou mais impacto: trocar o lugar habitual do melhor jogador da época passada, o que resultou nos primeiros três golos. Triste, humilhante, mas sobretudo: sem necessidade nenhuma. Enfim...
O que aprendemos com isto? Muitas coisas. Mas principalmente: sejam vocês próprios no vosso melhor; porque adaptarem-se aos outros pode dar numa "goleada".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

As luzes de Natal (60)

Vinha no autocarro. Eram dezanove horas e pouco mais do que isso, quando chego à rua que liga o Colombo à estrada de Benfica, rua esta que termina, por assim dizer, na esquina onde está o café Talismã. As luzes de Natal a cada ano que passa são colocadas mais cedo; e não só são colocadas mais cedo como também as ligam mais cedo. E eram dezanove horas e um pouco mais, quando as vi, acesas, neste ano.
Lembro-me que todos os anos o sentimento ao vê-las é fantástico, mas desta vez não. E depois, como qualquer criatura sentimental (pouco ou mais que as outras) relembrei este momento mas no ano passado. O processo de erosão que percorreu o meu corpo foi prolongado, com uma quantidade considerável de magia, sentimento bruto, e melancolia. E desta vez, pela primeira vez, não sorri ao ver as luzes acesas. Não. Não consegui. Dei-me ao prazer de dar, pelo menos, à minha alma, uma pequena satisfação por todos aqueles, que como eu outrora, sorriem ao ver as luzes acesas pela primeira vez, assim como em todas as noites. Não consegui amar, entregar-me ao momento, mas sorri para dentro por toda essa gente. Mas não consegui fazer mais nada. É impossível este Natal ser melhor que o do ano passado; e só deposito a minha esperança num Homem que partilhe e ajude e se esforce mais para com os outros e os seus...E que a minha espiral venha e que venha o melhor possível. Desejo a todos uma excelente preparação para um Feliz Natal.
(E lembrem-se, citando Bill Watterson: As melhores prendas não dão para embrulhar. )

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Hoje perdi (61)

Perdi. Ando a perder todos os dias. Não o consigo evitar. Já não sei onde mais procurar. A esperança, essa que deveria ser a última a morrer, escorre-se depressa por entre as minhas mãos. Mas não é só a esperança que vai desaparecendo a passos largos. As coisas que tinha de bom, estão a desaparecer pontualmente, e tudo aquilo que não tinha de mau, começa aos poucos a entranhar-se no meu ser. Nunca pensei chegar a este ponto, a odiar-me mais do que já odiei alguém. Antigamente era um monstro em tudo aquilo que escrevia, e nesse mesmo monstro tentava compreender o mundo, compreender-me, e tentar iluminar um pouco mais a vida de quem me rodeia, em suma: era um monstro controlado e com fome de elevação; agora? Já não. O que mais temia aconteceu, estou a descontrola-lo, agora faz parte da minha vida. E com ele nada aprendo. A vida, aos poucos, está me a vencer bem...Ainda não desisti, mas nunca fui aquilo que sou agora. Costumava ficar feliz com aquilo que me tornava. E mesmo até à pouco tempo estava no lugar certo, mas ultrapassei o limite, e agora: exagero. Exagero-me.
Fiquei marcado. Esta cicatriz já só dói às vezes. Mas vai queimando forte quando queima.
Acabei por me tornar naquilo que mais temia: em vocês. Ou terei sido sempre assim? O que me está a faltar? O que me está a motivar este monstro?
Apetece-me chorar, mas tem estado difícil. Têm surgido alguns momentos, mas depois nada acontece, sobra a frustração. Maldita seja toda a frustração, seja em que ramo for, seja em que situação for.
Quero mudar-me outra vez mas tudo o que sai dos meus lábios é - Desculpa. Desculpa. Desculpa, não sei o que se está a passar. É como tocar o paraíso e o inferno no mesmo dia.
Vesti uma armadura demasiado dura; que me protege e me vai afastando ainda mais de quem amo. De quem me ama.
Eu vou morrer, e isso não me importa; mas o que estou a viver, da forma como estou a viver é que me importa. Quero que chegue o frio que cobre Lisboa, o frio que não nos deixa sair de casa; estar sentado aqui, a saborear o processo do aquecimento.
Houve um dia em que já fui sensível, que da minha maneira fiz a diferença da maioria dos demais. Esse dia já passou. Agora sou outro; e esse outro...Odeio estar e ser assim.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Hoje plantei uma árvore (62)

A vida ás vezes é demasiadamente acessível para o nosso ser complexo. E por complexo não quero fazer passar um elogio, pelo contrário. A complexidade tende a destruir, no seu geral. Depois também existem as complexidades que fazem com que o mundo evolua, e que só alguns conseguem descodificar, como na Ciência, Economia, Saúde, etc, etc.
Hoje plantei uma árvore. Quando compro uma garrafa de água, o que tento evitar ao máximo: pois vou sempre enchendo em casa (ou noutro sítio qualquer), compro sempre a mais barata. Na altura não penso na água que vem na garrafa naquele momento, mas sim no seu preço e nas vezes que vou utilizar a garrafa para saciar a minha sede. Porém hoje comprei uma garrafa de água da Serra da Estrela. De facto soube-me muito bem, mas não foi essa a parte interessante que me fez escrever este texto. Esta água em concreto, (desconheço se existem outras que façam o mesmo), e não quero com isto fazer qualquer tipo de publicidade à marca, mas sim ao projecto em si, permite ao consumidor, depois de a ter comprado, de em aproximadamente 60segundos (e não estou a exagerar neste tempo), plantar uma árvore em um dos vários sítios que nos dão a conhecer.
Hoje plantei uma árvore. Um gesto tão rápido como ver o nosso correio electrónico, como cantar um refrão, como fumar um terço de um cigarro, como um beijo rápido a meio de uma conversa. Fantástico não é? Em 60 segundos, através do site da água da Serra da Estrela coloquei o código da garrafa que comprei, sem gastar dinheiro, sem compromissos. Num clique ajudei a plantar uma árvore. Todas as pessoas que já fizerem este gesto (sejam as vezes que forem) ficam lá registadas, e confesso que fiquei feliz ao ver que muitas pessoas já ajudaram e ainda ajudam. Este é projecto um feliz que dura todo o ano.
Hoje, eu, lisboeta, criatura que vive numa selva de betão (e pouco mais), plantei uma uma árvore. Quantos de nós já deitaram fora a garrafa sem perder 60segundos a fazer a diferença? Eu acordei hoje. Espero que vos tenha ajudado a acordar. Ajudem todos a fazer essa diferença - Obrigado.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Possivelmente mais um outliner (63)

Existem coisas na vida às quais nos habituamos. Algumas são más outras boas, outras excelentes outras péssimas. É a vida não é verdade? Depois existem aquelas coisas que nos fazem pensar, tornar maior, minimizar, que nos fazer arrastar blocos de rocha enormes em qualquer direcção e que nos fazem rastejar por algo que nos afaste do que estamos a sentir. E essas coisas, muitas vezes, não têm um "final", não têm uma resposta, uma solução. São coisas que por muito que estejam presentes (seja a curto, médio ou longo prazo) nunca são recebidas e aceites na nossa habituação. E esta é a batalha, sem derrota talvez, talvez sem vitória, que batalhamos talvez todos os dias e noites. São nos sonhos que nos aparecem sem quereremos enquanto dormimos, nos pesadelos enquanto dormimos; são os sonhos que nos preenchem ou que nos esvaziam. O que quero dizer, em tom aberto na minha escrita, é que, existe uma complicação grave entre todas as seguintes palavras: fazer, pensar, desejar, sentir, falar, repensar, fugir, chorar; ter saudades, refazer, lutar, deixar, conquistar, reconquistar, acabar, começar; e para juntar a tudo isto, assim em estilo de rota de colisão todo um conjunto de "sinais" (de forma harmoniosamente bela ou apenas harmoniosa). Custa saborear tudo isto ao mesmo tempo. Porque fica tudo por explicar e tudo por ser organizado. Fica tudo por viver. Não sei que dizer. Perdi-me. Estou oficialmente perdido nos pensamentos que coloco no papel...Queria receber da vida um ponto de exclamação, uma vírgula, um ponto de interrogação com uma resposta no seu seguimento...
Ao que vejo, tudo o que me chega, são reticências. O que me deixa a ruminar, grotescamente escrito, é ter de duvidar de várias frases e sensações que já tinha como adquiridas, e mais importante ainda: como certas. Sim, é claro que posso estar errado. Possivelmente estive-o a maior parte da minha vida. Talvez tenha vivido vendado, e tudo o que me ia na alma, era dito de forma cega. E tudo o que fui, fui-o de forma peculiar, como se fosse um cego a descrever a paisagem que imagina. Pode ou não estar certa, ou ter fragmentos de verdade ou não, mas quais seriam as probabilidades de estar muito completa? Firme? Ao que me apercebo: nenhumas.
O mais triste? Talvez só eu possa tirar esta venda, e preparar-me para não ficar cego à luz da realidade. Aos poucos preciso de saber, aliás, preciso de aceitar, que estou errado. Custe o que custar: errei. Errei-me. Sou um erro. E talvez depois, aos poucos perceba o que ainda posso fazer por mim, e pelos outros.
Isto é só de mim ou o mundo ergue-nos ao mesmo tempo que nos rasteia? Poderá alguém sentir o mesmo que eu? É que quero aprender se estão todos em barcos diferentes ou se apenas eu estou no barco errado...Porque agora, consciente da minha pobreza, sei que não estou no barco mais iluminado, por muito que tenha pensado estar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As minhas sombras estão de volta (64)

Elas voltam sempre. Voltam sempre. O grande problema em lidar com as sombras, é que independentemente de já as conhecer, não vai ficando mais fácil. E se existem alturas em que aguenta-las não custa assim tanto noutras alturas custa muito mais. Demora a chegar a total calma...e se por um lado não fico a olhar o tecto durante longos períodos a verdade é que fico a olhar para outras coisas, pela noite dentro. Quando dou por mim estou a adormecer ou a deitar-me a curtas horas de todo o resto da casa se levantar. Não existe consolo em nada, pois nada nem ninguém me sabe dizer quando isto vai terminar. Todos nós temos sombras, umas mais dolorosas que outras, umas com maior capacidade de travar a vida que outras...Também não podemos ser só luz não é? Algo me diz que esta pergunta está incompleta. E que a resposta nada teria haver com o que penso realmente.
E vai-se repetindo tudo,
o que já foi visto, dito, escrito, fotografado. Enfim, dê Deus paciência e força a quem realmente precisa Dele.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Run sheep Run (65)

Ontem vivi no vosso mundo, e vive a vossa rotina. Às treze e dezanove corri, e corri ainda mais, saltei, e corri, para apanhar o barco...Depois, às dezoito horas e trinta minutos, corri, saltei e corri ainda mais, sendo quase esmagado pelo fechar de duas portas de aço (revestidas com borracha) para apanhar o metro...Depois, às vinte e uma e trinta e pouco corri, corri muito, que nem um louco, para apanhar o autocarro. Tudo no mesmo dia. No que me estou a tornar? Fui mais um no centro do rebanho. Não gostei da sensação. Não gostei de ser igual a vós, de fazer parte da vossa espécie. Dei-me repulsa. Tanto correm todos vós...seria uma piada de mau gosto dizer que não precisam de correr para a morte? Que ela, talvez, já esteja à vossa espera? Julgo que não. Corri. Corri muito. Sempre ser pelo prazer de correr. A sofrer nas minhas calças de ganga pretas, com alguma roupa excessiva dado o frio...O mp3 a saltar dentro do bolso, o passe quase a fugir...
Tanta correria. O mais triste é que todos corremos para metas comuns, colocadas na nossa mente por patrões ou patroas similares...Mas talvez o dinheiro seja o verdadeiro líder. Who cares? Onde vamos parar?
Eu sei. A uma vida sem recheio, a um vazio certo...acabaremos por nos tornar escravos de algo que nem sequer gostamos...e para quê? Digam-me vocês. As pessoas pensam que ter vida é viver à pressa, consoante tarefas por nós aceites (muitas vezes sem nosso consentimento)...Esta máquina mundial está em sintonia apenas em maus aspectos. Louvado seja o monstro que há em mim, se e só se, se e só se ... se e só se...
Enquanto correm: eu estive aqui a observar. Boa viagem para algo parecido, nem que muito ao de leve, nem que muito exagerado, para a vossa mini auto-destruição. (Todos vamos morrer um dia não é? Talvez o erro seja meu.)

Medo! (66)

O Diogo avança muito devagar pelo mar a dentro. Muito devagar. Está frio. Para mim o mar está sempre frio. Segundo o meu amigo Varela (adorador eterno do mar) o mar está sempre quente. Gostava de sentir o mar como ele sente. Para mim, mesmo nos dias em que supostamente está mais quente, continua frio como...apenas frio, gelado. Penso sempre que é desta que vou partir para o outro mundo com um ataque idiota de hipotermia. Já apanhei um susto uma vez. Saí do mar, aliás do rio...e não parei de tremer durante quase uns trinta minutos. Várias pessoas colocaram toalhas em cima de mim. A minha namorada encheu-me de calor corporal, mas estava difícil. Mas como já disse, foi apenas e apenas só um susto. Mas o Medo! não é esse. Com o frio aos poucos começo a ficar familiarizado...e é tão ou mais constante em mim do que o calor. Aqui o Medo! é outro. Desde pequeno, sabendo ou não nadar, algo que sei, o suficiente para sobreviver, apesar de não saber nadar de forma profissional ou bela, é deixar de...sentir...o chão. Talvez seja mais responsável do que penso; ou será covardia? Eu não sei. Sei que no momento é que vou avançando, vou de forma cautelosa...não por ter medo de morrer, mas sim por ter Medo! de deixar de sentir o chão. Não consigo explicar melhor do que isto. Quando estou no mar, piscina ou rio, se por algum momento sinto que não consigo tocar no chão entro num pseudo pânico. E faço todos os possíveis, dando ou não nas vistas para recuar os centímetros, decímetros necessários para voltar a estar na minha zona de segurança. Por segundos entro nesse Medo! que me deixa à deriva nesse pequeno metro quadrado que para todos os outros comuns mortais é normal. (Menos para mim)
Sei que não me vou afogar...mas mesmo assim. A vida é estranha? Não. Mas talvez eu seja.

domingo, 17 de outubro de 2010

É triste a clareza que a morte traz às nossas vidas (67)

A morte...é raro na minha vida ter discussões que envolvam a palavra morte. Na maior parte dos casos tudo não passa de uma injecção forte que dou a quem me ouve, onde o líquido é um conjunto de crenças minhas, umas melhor justificadas que outras. As pessoas pouco ou nada me têm a ensinar sobre a morte. As únicas que pessoas que podiam alterar o que sinto ou penso sentir, o que sei ou o que penso saber, são as pessoas que já cá não estão. E Deus, existindo ou não, (mesmo acreditando que sim) também não ajuda nesta matéria.
Alguns, como também já foi (ou talvez ainda seja o meu caso), acreditam em sinais de outras vidas. Portanto...
Desde tenra idade deixei de temer a morte. Em grande parte por tudo o que penso saber ou sentir. No entanto isto não quer dizer que lhe abra os braços na primeira oportunidade. Gosto muito de viver. E como costumo dizer, para desgosto de alguns: todos os dias são bons para se morrer. Temo sim deixar pessoas que amo para trás. Talvez me assuste a forma de morrer. Mas o que mais me assusta realmente é aquilo que posso vir a fazer sentir nas pessoas depois de morto. Porque quando esse dia chegar, em princípio, serão alguns aqueles que verão com clareza, a falta que lhes posso fazer; aquilo que escrevi e que nunca mais escreverei. A minha voz. O meu toque. O meu olhar. A minha estupidez. As coisas boas e más que fiz...não quero que se lembrem apenas do que fiz de bem. Porque o ser humano, na hora pós-morte gosta de salientar apenas o bom, o que também não me agrada. No entanto, será bom, ser a vez de outros sentirem comigo o que já senti com outros. Mas eu não desejo que se queimem da mesma forma que eu, ou que outros já se queimaram. Não. Eu espero, como espero desde que tomei consciência que o ser humano é um ser tão racional como emocional como idiota, que vós, quem seja que o vós seja, aproveitem-me agora. E assim, na minha morte, apenas recordem, sem arrependimento, apenas com saudade, e com tranquilidade de alma.
É triste a clareza que a morte traz às nossas vidas. Esta frase saiu-me tão profunda como dolorosa.
Mais uma vez a reflexão do monstro derrubou a mediocridade humana que vive no erro e no atrito.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sessenta e oito

(Se me pedissem que me definisse numa só palavra confesso que hesitava entre parvo e estúpido. Apenas pela simples razão, de como a maioria, confundir as duas palavras. Não é uma coisa boa nem má, apesar de a encontrar como essência da minha autenticidade. Para o bem ou para o mal, sou assim, e de certa forma, neste sentido, não espero mudar. Pois é o que sou, e o meu melhor eu dá-se a mostrar nessa mesma forma. Digo isto, porque muitas vezes é agir de forma parva e\ou estúpida que me leva a compreender o erro que estou a cometer, como foi agora o caso. Revolta-me um pouco ver pessoas a não ultrapassar barreiras, sejam lá elas díficeis ou não. Revolta-me ainda mais ver pessoas que criam as próprias barreiras...Isolando ou mesmo matando a sua liberdade. A minha raiva maior é ver-me a cometer esse erro. Eu escrevo o que quero, e da forma que quero. E quando escrevemos...(como deveria ser na nossa vida toda, que o é, apesar de ignorado) temos a liberdade de criar o que queremos. Para quê cingir-me às regras a que me imponho só por cingir-me? Porque não utilizar o poder que tenho, (que todos temos), e fazer aquilo que me vai na alma? Quando daí só advém algo melhor? Por estupidez. Pois hoje não serei estúpido, e à minha maneira, matarei saudades, da forma que posso. Sairei feliz? Não interessa. Ao menos tentei.)

Foi com um misto de alegria e tédio que atravessei o rio Tejo. Já era de noite, e a maioria dos portugueses já tinha jantado, e estava agora em frente à televisão vendo Portugal jogar. Aconteceu algo quase tocante: perguntei ao meu irmão como estava o resultado. A partir desse momento tive direito a uma descrição curta mas eficaz do jogo, dos golos, da forma de jogar de ambas as equipas. Foi um momento, de forma muito peculiar, feliz. O interesse pela selecção morreu há muito tempo. Sigo o futebol que dá pelo prazer de ver bons jogos a nível europeu e mundial assim como de seguir a equipa do meu coração, esse dito glorioso, o Benfica. No entanto, algo mudou com a entrada do Paulo Bento. Sempre o respeitei como treinador. Alguns acharam que era um salto demasiado grande coloca-lo à frente da selecção. Até agora tudo indica o contrário. E apesar de ainda não vibrar com a selecção da mesma forma como vibro com o Benfica, a Alemanha, Brasil, Holanda, (a Itália dos bons velhos tempos ou mesmo a Inglaterra), a verdade é que está a renascer em mim um português.
E é isto. Foi bom estar de volta...ao meu ambiente. Porque há coisas que nunca mudam.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Estalar de dedos que me desperta (69)

Acordo, estende-se o dia à minha frente. Aproxima-se o Outono, a chuva, o frio, o vento; o Inverno. Darei suficientes graças por estar vivo? Às vezes sim, em situações pontuais. Nas arestas imensas que me falta limar até me tornar num monstro mais perfeito, ainda me falta dar valor à saúde sem ser apenas quando me encontro na doença; ter fé nos momentos todos e não só quando preciso de algo mais; dar valor ao que tenho sem ser por observar à minha volta quem está pior.
Em algumas coisas estou bem melhor que muitos. Não preciso de perder alguém para lhe dar o devido valor. Disso já me fartei. Engolir em seco ou secar lágrimas depois de nada mais haver a fazer já não me chega. Disso já me fartei. Se nem na morte temos ainda a certeza de ser uma despedida para sempre para quê forçar outras despedidas? Coloco músicas a tocar para realçar a exclusividade do momento; desde músicas grosseiras de guitarra e bateria grotescas, onde viajo sem sair do sitio, a músicas épicas. Desvalorizo e valorizo a raiva. Desvalorizo e valorizo o ódio. E antes que possa agarrar algo mais que me foge pelos dedos...desligo-me. Ou sou desligado. A essência é a mesma, a única coisa que muda é a culpa, se existir. Para a maioria basta o chamado sentimento. Eu não sou a maioria. Portanto, ou estou longe de sentir a profundidade do que já sentiram ou sentem, ou estão vós um pedaço enorme atrás de mim.
E vou-me perdendo nas razões que me movem as pernas, perdido por voltar a pensar que sou como todos os outros em todos os pormenores. Até me podem ir tentando provar que não sou; mas nunca será a mesma coisa. Se me pudesse acordar enquanto estou a dormir faria-o sem hesitar. Aguardo pelo estalar de dedos que me desperta.

domingo, 10 de outubro de 2010

Falta (70)

Sinto falta. Falta de tudo. Sinto falta da Apologia do meu eu, onde residia toda uma descrição, um desabafo real. Sinto falta de me abrir ao mundo daquela forma simples. Tinha um espaço só meu, uma espécie de diário público, onde me ia despindo, e não me refiro à prática concreta das minhas acções, falo de tirar a roupa ao meu ser, da forma que ele é. E apesar da falta que me faz não é por isso que para ele vou voltar. Tento arranjar formas de o substituir, descrevendo situações, inventando histórias, gritando desabafos. Será a mesma coisa?
Não.
Nada é igual a nada. Nada tem o mesmo valor que mais nada. Não existem medidas e pesos para tudo...é difícil compreender-me. É difícil fazer-me sentir de forma a ser totalmente sentido. Se a minha vida fosse como a minha escrita tudo faria mais sentido, tudo teria uma razão de ser. Mas não é.
A realidade é fria?
Não. Mas a maioria julga sentir frieza no realismo. Ainda sonho? Apenas quando durmo. O ser humano deveria ser uma pilha recarregavel. Mas já não é. Deixou de ser. Talvez nunca tenha sido.
Já deram tanto a tão pouco, fitando o vazio quando não conseguiram que quem queriam que vos sentisse vos retribuísse outro diferente pouco.
Na vertiginosa realidade que se abre nesse abismo, nessa tragédia grega, tudo o que podem implorar a Deus é que vos coloque uma pedra no lugar do coração e um icebergue no lugar do cérebro. Faria algum sentido dizer outra coisa qualquer?
Sim. Mas já o disse uma vez: isso mudaria algo?

sábado, 9 de outubro de 2010

A origem (71)

Tudo começou à muito tempo. Eram duas da manhã. Estava sentado a ver televisão...Pânico. Em pormenores que aprendi sozinho, que mais ninguém me conseguiu ensinar, encontrei palavras úteis para aqueles que me rodeiam. Existem momentos na vida que percebemos que somos alguém, momentos em que a nossa mão se estende, além a fronteira da teoria e que de facto somos importantes. São pormenores como disse. A vida é feita deles. E tudo começou nessa noite. Nunca mais fui o mesmo. Tive medo nessa noite, como vários de nós têm durante a sua rotina. Hoje continuo a temer voltar a sentir o que senti. O que mudou em mim? O monstro nasceu...antes tudo era um nome, um título, um chamamento. Depois? Era uma origem, era um acto, era um texto. Nas minhas veias corria sangue, agora corre um sangue que é frio e morno e quente, de forma similar à situação. Não direi nunca que foi a origem do mal nem do bem, foi a origem da pessoa, do monstro que me tornei para sempre. O ser humano deveria absorver a realidade, beber dos acontecimentos que o rodeiam. Eu absorvo ainda mais, eu bebo como se nunca conseguisse matar a sede. Sou feliz como sou? Não sei ao certo. Não me imagino de outra forma. Não deixo que controlem o que bebo, nem que me embebedem. O futuro é incerto. Nada é tido como absoluto, eterno. Sei unicamente que nasci e vivi toda uma vida para chegar a isto, ao que sou agora. Amante levado ao total possível, mas mais frio. Se pudesse aquecia o mundo da mesma forma que o gelava sem pestanejar.
Pedi que me desenhassem um monstro, mas não conseguiram. Procurei em todo o lado e nada me satisfez. Precisarei de colocar uma imagem na minha alma? Carimbar o sentimento? Escrever, falar, agir, tudo ao mesmo tempo? Lamento pensar que progrido sozinho, nesta batalha cinzenta entre o bem e o mal, entre o avanço e o retrocesso...Ceifo o arrependimento da mesma forma que ceifo a saudade. Não desejo a ninguém uma tentativa frustrada de matar uma Hidra,um monstro mitológico que, tendo uma de suas cabeças cortadas, fazia crescer duas no seu lugar...Onde vamos parar?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Maynard James Keenan em dueto (72)

Um grito não vale mais que mil palavras, nem dez palavras, nem que palavras, mas também pode valer. É como imagens que valem mais que puro ouro nas nossas mãos; como pequenos pedaços de divino nos nossos olhos, no nosso ombro. Um grito vale o mesmo que o silêncio? Pode valer. Avalio pessoas, avalio situações. Avalio-me como monstro. Tento rotular o mundo todo? Dificilmente. É um grito que lanço em sintonia, durante vinte um segundos...que não aguento gritar. Vale o esforço? Não. Vale a vontade com que se gritou. Num dueto imaginário com a nossa alma e a alma de quem o deu. Um grito profundo que nasce nas trevas do nosso ser. Pela responsabilidade de se viver, de se ter um trabalho, de nos aplicarmos a ele com afinco. Por nos desligarmos da responsabilidade embalados no lodo que nos rodeia. São precisas palavras para descrever o que sentimos? E o que gritamos? E o que ficou por se dizer? E o que se disse a mais sem necessidade ou sentido?
Mas quem está comigo? QUEM ESTÁ COMIGO? GRITO SOZINHO OU GRITO COM MAIS ALGUÉM? QUEM TRANSFORMA ESTAS MALDIÇÕES EM OURO? QUEM APROVEITA ISTO COMIGO?
QUEM?QUEM??!!QUEM?!QUEM ESTÁ COMIGO?
QUEM QUER USAR PARA SEMPRE ESTA COROA? QUEM? ALGUÉM?
Às vezes rastejamos sem saber...nem sabemos bem no quê, porquê.
Esse grito valeu bem mais que muitas palavras. Que imagens. GRITO NAS PAREDES DESTA ALMA NA OUSADIA DE NÃO LAMENTAR COMO OUTROS, TRISTES OUTROS QUE LAMENTAM PARA SEMPRE.
Aprendi pouco, nada ensinei. Em palavras concretas: não estou sozinho. Por outras palavras: quase preferia estar. Em resumo, queria ser outro. Ser outro e não mais desejar.
GRITA

Face me (73)

Sussurraram...falaram. Não chegou. Gritaram-me aos ouvidos! Gritaram sem parar! Veio uma melodia forte para me completar os dias. São dias que passam sem lugar na minha história. Gritos, verdades ditas, verdades explicitas, palavras malditas que me atordoam os sentidos, que me revoltam. Viveste um sonho? Sonhaste-o. A maioria das pessoas acorda-se, sorri do sonho que teve. A maioria sorri do sonho que teve e vive o dia como se nunca o tivesse tido, tenta-o esquecer. Mas tu foste diferente, dizem em voz alta como se o mundo não aguentasse vivo muito mais tempo, tu acordaste com uma só vontade, concretizar o sonho da noite passada! Chove intensamente na rua, e o temporal aproxima-se aos poucos. São carros que parecem pairar no ar, e árvores que querem fugir do chão. As pessoas nunca pareceram tão frágeis...seremos feitos de papel? Somos feitos do quê afinal? Músculo, carne, tecidos sobrepostos, orgãos...? Encaraste o sonho da mesma forma que um recém nascido encara a vida. Com um sorriso de quem não sabe o que verdadeiramente o espera. Ingenuidade? Eu chamo-lhe fraqueza. Realidade? Eu chamo-lhe cobardia.
Continua a gritar até ficares com a voz rouca. Até que este fim do mundo deixe o planeta despido, sem roupa, com toda a culpa aplicada no ser humano. Chegará o dia que cantam; chegará a atitude prática dos gritos que proclamam. Fui longe de mais. O meu erro? Não ter ido mais longe ainda...Que vos sirva de lição; que vos sirva de entretenimento.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um milhão de luzes a trespassar um corpo (73)

Não exagero sentir-me bem neste momento, onde estou em pé num local de pessoas sentadas e outras como eu em pé. Reconheço a maioria dos rostos. Mas também não é isso que interessa. Eles estão cá pela mesma razão que eu: felicitar o homem que está naquele pequeno palco rectangular que não deve ter mais de três vezes quatro metros. Ele sorria. Quem me dera estar no lugar dele, mas estava feliz sem qualquer inveja, pois é um amigo meu, e ele merece mais do que ninguém. Todos esperavam de forma atenta o momento em que começaria a falar. Esta era a apresentação do seu livro, o primeiro de alguns esperava ele, e tê-lo escrito era a maior vitória da sua vida. A sala respirava entusiasmo. Conseguia ver, no meio daquela pequena multidão, os seus pais, e a sua irmã. Pressinto que o seu irmão também ali estava, mas não o consegui encontrar. Os seus amigos também lá estavam, e outros familiares mais próximos. Colegas, vizinhos, conhecidos. Estava uma sala satisfatoriamente composta. O meu amigo colocou-se de frente para todos, depois de ouvir abaixado umas últimas palavras do organizador de todo aquele momento. Sorriu para todos, senti-o completamente feliz...E na sua voz, mais alegre do que nervosa, como se já tivesse feito isto mais do que uma vez começou:
Antes de mais quero agradecer a presença de todos aqui. É um enorme prazer partilhar este momento com todos vós. Estou aqui para apresentar algo com o qual sonho há muitos anos! E antes de o fazer quero agradecer a duas pessoas que sempre me apoiaram; sempre, nunca duvidaram que este momento pudesse de facto ser possível, sempre acreditaram em mim, obrigado. Se aqui estou hoje foi em grande parte graças a essa fé na minha escrita. Quero também agradecer a todos os que me leram, criticaram, e de certa forma, à sua maneira: cresceram. E eu cresci. E muito. Tudo o que posso dizer de mais honesto é que existem dois tipos de escrita (e que não importa se é prosa ou poesia): aquela que escrevemos para nós (que pode ou não ser real, verdadeira) e a que escrevemos para os outros. O que espero, é que na que escrevi para mim, outros possam nela encontrar algo de útil, ou de belo, pois nem sempre essas coisas podem estar em sintonia. Em relação ao que escrevi para todos os outros que vos seja especialmente útil, e se possível belo. Quero agradecer aos verdadeiros, aqueles que me aceitaram como monstro, e que no monstro encontraram algo palpável, suficientemente forte para ser agarrado com unhas e dentes e mãos de dedos fortes. Quem me aceitou como sou, e com isso aproveitou o melhor de mim, é a esses que me dedico e é por esses que me tento elevar cada vez mais. Acrescentar ainda, que o mais importante, concretizado este sonho, é chegar a todos os possíveis que puder chegar, e tentar dessa forma fazer alguma diferença. A quem me ama, agradecer a quem me fez companhia na escuridão, a quem ficou comigo, para depois, a seu devido tempo, me ajudar a sair dela. Quem ficou comigo na escuridão...
O meu amigo calou-se. Todos ficaram a olhar para ele. O que se passaria? Eu sabia. Só podia ser uma coisa. Segui os seus olhos. Tinha acabado de entrar uma pessoa na sala. Só podia ser. A cara dele oscilou entre várias feições. E de repente, para quem pensava já ter visto aquele homem na felicidade mais pura, depressa se apercebeu afinal que aquela felicidade era muito pequena...Senti-o completamente feliz. Já o tinha visto assim outrora. Acabou de falar, sem tirar os olhos de quem entrara, e passado uns minutos retirou-se. Todos aplaudiram. Naquela sala ficaram todos os que lá estavam menos duas pessoas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Na varanda do Céu (74)

Não conseguirei imaginar lugar mais impressionante. E é engraçado pensar nestas coisas do ponto de vista de qualquer outro ser humano ou mesmo monstro. Pensar que esse lugar impressionante não impressionaria mais ninguém, ou muito poucos, porque muita da magia que aplicamos a um lugar depende só de nós, e a sua importância e beleza deriva de algo que está dentro do nosso ser, chamem-lhe coração, ou alma, ou mesmo razão. Por isso não posso transmitir, na totalidade do sentimento, aquilo que senti. Será tudo um esboço muito leve, quase imperceptível, de uma realidade difusa, de um sonho que se torna mentira, névoa, recordação. E mesmo que conseguisse transmitir este lugar, com toda a clareza, que sentiriam todos vós? Nada, ou com alguma sorte, alguma melancolia sorridente que nem sequer é vossa.
A vista poderia, a outros olhos, parecer tediosa, prédios de quatro ou cinco andares, não me recordo com clareza, e uma pequena rua por onde passam carros apenas de quem lá vive, com pequenos espaços para estacionamento; algum verde e um sol que se escapa por entre os prédios. E o sol sorria-me, talvez como nunca me sorriu antes, e aquecia-me os braços nus. Mesmo não sendo minhas, limpei as beatas do chão. Aquele chão era demasiado belo e puro para estar sujo com algo tão estúpido. E eu fumava, dois cigarros pela sede que faltava saciar. Mas a vontade não era ficar ali por muito mais tempo. Não. Mas o tempo que ali passei, em pé a fumar, a contemplar toda a calma do mundo, toda a harmonia do mundo, como se por momentos não existissem guerras, nem morte, nem doenças, nem pobreza...eu era o centro do mundo, eu era um ser em paz e em sintonia com a felicidade. Algumas pessoas dizem que o frio é psicológico. Algo que é contrário à exacta Ciência. Ao contrário do que possa parecer é com ela que concordo, no entanto, ali estava eu, de boxers e meias, e uma long-shirt fina e arregaçada, numa manhã de menos de oito graus, sem frio.
Naquela varanda, uma varanda única, onde o Céu regia todas as leias do Homem e do Divino, eu estava bem. Na varanda do Céu eu fumei sem a fome de um fumador, e respirei como só um homem livre na sua felicidade pode respirar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A peça que poderia faltar mas que sempre aqui esteve (75)

Demorei algum tempo a descobrir isto. E verdade seja escrita que muito procurei eu por este momento. Sabe-o Deus e sabem outras pessoas. Foi uma luta incessante, desgastante, e apesar de agora ter por um lado terminado, dado que descobri por fim a peça que pensava faltar, a realidade é que falta o mais difícil. O ser humano gosta de dar lições, injectar palestras. Não digo que as faça mal, ou apenas por fazer. A realidade é outra. Falar é simples. Fazer? Não é complicado, mas é mais complicado. Na maioria do tempo que gasto a viver, gasto-o ligeiramente revoltado, frustrado...abismado talvez. Não sei definir ao certo. Sei que tenho cometido erros. Alguns grotescos, outros mínimos. Mas também não é por isso que festejo esta descoberta. A minha descoberta teria muito mais valor se fosse sentida por pessoas que sentem da mesma maneira que eu. E essa mesma descoberta tem tanto valor, e chego a esta conclusão com toda a humildade possível, por várias razões, como outra descoberta qualquer. Não vivo em busca da receita concreta e infalível da felicidade. Até porque nesse assunto encontramos outras sub-ideias. "Está dentro de nós"; "É destino", seja lá o que tudo isso for. Não, não é isso. É perceber que estou um passo mais próximo de alguma coisa. Faltou-me alguma peça nos passos que dei? Serão algumas peças mais essenciais que outras? Queria dizer que sim, garantir que sim...Eu tentei mostrar isso a muita gente...Com gestos, palavras, teorias, razões...sonhos. Consegui trazer pesadelos quando apenas cria mostrar uma realidade melhor. Então de que me serve absorver esta peça? A razão humana esclarece-me de forma fria: as peças têm todas a mesma importância. Que seja. Esta frieza já me magoou mais. Já me magoou, já me iludiu, já me deixou dormente...e nas trevas escuras vagueei. Agora, tudo o que sei é que encontro na vossa verdade fria um pequeno aconchego, encontro uma razão de esculpir uma armadura capaz de me manter forte o suficiente para prolongar a minha loucura de ser como sou, sem medos, e de me manter fora do alcance de quem está onde não deveria estar. Por isso, com um sorriso simples mas não forçado agradeço a vossa franqueza...a vossa frieza, a vossa verdade, a vossa ideia geral da realidade...Graças a todos vós, graças ao meu Deus.
E reformulo toda a minha existência numa peça que julguei perdida. Sei que esta peça me fez falta...e duvido que a tenha encontrado para sempre. E duvido que a consiga levar a todos, quando a mim mesmo é complicado levar, entender completamente. Dizem-me com uma quase felicidade que os círculos perfeitos não existem...e que a perfeição é um mito...Noutras circunstâncias talvez tenha concordado com todos vós. E lutei contra o que pensei estar errado...longe de mim para sempre. Porque lutei tanto? Pela mesma razão que o Homem se levanta todos os dias...Se conseguirem amar os defeitos do outro, segura-los como se fossem qualidades, e aguentar outros pequenos e grandes fardos, lutando e amando de forma a que tudo consiga ter o rumo pretendido, valorizando o bom e desvalorizando o mau...então, caros leitores, cara alma,

não sentirão nada mais (e é o tudo) que um círculo perfeito nas vossas mãos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O bem e o mal desde 1987 (76)

Não deixa de ser curioso o tempo que já despendi a tentar compreender o bem e o mal do mundo, ou talvez, do universo. A verdade é que tento saber sempre algo mais sobre este assunto. Porquê? Boa pergunta. Ou deverei dizer: excelente pergunta?
As confissões do ser humano reduzem-me à interrogação. Serão sempre mais as perguntas do que as respostas. E este texto não passa de mais um pedaço; que não é o fim, e que não continua um inicio. Apenas chegará ao fim no dia da minha morte. Com a minha morte não levarei nada físico comigo, e todas as linhas, mal ou bem usadas, serão esquecidas. Não sou estudioso de nada, não sou filósofo, e muito menos escritor. Estes pensamentos escritos podem servir de nada ou de muito pouco para o leitor. E para mim? Valem o que valem, e não valem mais do que isso. Sou constantemente interrompido pela ilusão e pela mentira. Travam de forma atroz a verdade que se vai tentando erguer, devagar, muito devagarinho. Onde reside o mal? Onde reside o bem? Todos acreditamos no bem e no mal, agora, todas as questões que se seguem são isso mesmo: questões. Está o bem e o mal dentro de cada um de nós? Estará alguma força divina a encaminhar esses mesmos lados?, tanto para um lado como para o outro?
Eu não sei. Mas queria saber. Mesmo que me bastasse esta vontade de saber, esta ganância em tentar estudar pequenos factos, uns mais isolados do que outros, a verdade é que não chega. Eu sou uma gota, sou um grão de areia.
Haverá cura? Haverá tratamento? Haverá recompensa ou castigo? Será a Lei das massas justa a avaliar o que é o bem ou mal? Possivelmente. Estará em nós, única e exclusivamente, a força capaz de conduzir os nossos passos nestes dois diferentes caminhos?
Muitas vezes caminhamos sem pensar muito nisto. O mundo gira? Gira sim. E as nossas vidas continuam sem grande tormento nestes pensamentos. Talvez toda esta minha ganância seja apenas só minha. E talvez seja tão inútil como a própria procura, que está gasta.
Serão alguns actos corrompidos pela loucura? Pela passividade? Estaremos nós à espera de algum milagre nas nossas vidas?
Eu procuro. Mas morro cedo na praia. Talvez até mesmo no mar. É como se a caneta estivesse gasta antes sequer de a utilizar.
E fico quase parado, a observar essa moeda que roda no ar, na esperança quase vã, que no fim, tudo o que sobre para reparar seja a terceira face da moeda.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mingos e samurais (77)

A invenção começa quando pego na viola que não tenho e que não sei tocar. E uma banda, pequena, onde cada músico tem um nome conhecido do público, ou mesmo que não tenha, é apreciado pelo público de forma singular, toca atrás e ao meu lado. Inicialmente tocamos músicas calmas, outras um pouco mais ritmadas. As letras são simples, tão simples quanto nós, e rimam, de uma forma que gostamos de rimar com a vida. As pessoas já nos sabem acompanhar. A maioria das letras e música têm uma sonoridade viciante, e depressa todos aprendem a cantar, e cantam connosco. Nesta indústria muitos entram pelo dinheiro que dela pode advir. Não é o nosso caso. Isto é aquilo que nos dá prazer, se deste prazer advier dinheiro, seja pouco ou muito, ou algum, será bem vindo e é apenas um anexo simpático. O que queremos é espalhar esta magia, esta música encaixada nestas letras e estas letras a encaixar na música. Misturar vários estilos musicais. Sabe tão bem estar aqui no palco...e sabe tão bem sentir que podemos estar numa espécie de trono, onde o público bebe de forma sedenta e quase cega as nossas palavras, como sabe bem sentirmos que o público e nós somos a mesma matéria, que vibra e se reflecte de forma similar através destas canções. É gratificante. Não gostariam de sentir que aquilo que vos dá prazer consegue ainda dar prazer aos outros? Que aquilo que fazem por prazer ainda por cima fazem bem? A vida devia ser sempre assim. Mas não é. E talvez seja também essa uma razão para escrever letras, construir músicas, encaixar peças. Podíamos estar sentados algures no nada, parados, olhando o nada, a respirar nada, a absorver vazio. Podíamos andar na rua, por andar, fitando o vazio. Podíamos fazer o nada que a maioria tenta fazer de forma sonâmbula e cada vez de forma mais aperfeiçoada. Mas não, simplesmente optamos por não o ser, por não o fazer. E criamos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Exaustiva repetição da tentativa da leveza do ser (78)

Todos os actos têm uma consequência. Todos. Podemos pegar na experiência da ciência, coloca-la ao nosso colo e comprovar cada questão. Se aproximar uma chama da minha mão, é certo que me vou queimar, pois alguém se queimou primeiro que eu, muitos se queimaram, e em termos físicos dos corpos, chegou-se à conclusão. A chama aproxima-se, eu queimo-me, cria-se uma queimadura que acabará por arder. Todos os actos têm uma consequência. Podemos divagar e colocar em causa a teoria do bater de asas da borboleta, apesar de ainda só sonharmos com a possibilidade de viajar no tempo. Muitos de nós, em termos menos práticos, pensamos ainda que existe Inferno e Céu, a consequência para os nossos actos e vidas presentes, sejam eles julgados (correcta ou incorrectamente) pelo o Homem.
Poderemos então definir um Homem pelo que diz? Ou apenas pelos seus actos? E se a sua capacidade de mudar o mundo, de mudar quem o ouve, baseia-se na forma inspiradora como fala? Estarão os actos mais próximos da verdade sentida pela sua proximidade com a alteração visível e palpável na realidade? Tomara ter as respostas. Tomara ter menos perguntas. Tenho ideias vãs, que tento pensar, coleccionar, encaixar, separar...Para quê? Não sei ainda. Sei que na minha vida me sinto útil questionando o que me rodeia, desde o Homem, ao Homem próximo, às religiões, a Deus. Sinto saudades de algo que nunca fui, e de poder ter vivido na Grécia antiga, onde passearia nas praças filosofando, alimentando-me apenas para viver, vivendo para amar o próximo e questionar tudo. Sem medo de actuar, sem medo de pensar mais alto. Sem medo de ter pessoas que pensassem comigo, e que juntos, tentássemos, não sei, evoluir. Sinto que quando tento pensar de facto, escrevendo, de certa forma saio do meu lugar, e por momentos, nem que seja pelo simples facto de querer subir, elevo-me um pouco. Será ilusão? Talvez.
A leveza do ser é tão pesada. Como pode o ódio e o amor ser pesado ou tão leve?
Seria uma lavagem da alma, diária, reflectida. Mas por vezes, tudo o que nos apetece é puxar o autoclismo e ver uma espiral desaparecer, dando lugar a uma calma usual...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Glaciar ao sol (79)

Fui-me derretendo. E derreti durante muito tempo. Por momentos pensei estar completamente só. Mas não estava. Nunca ninguém está completamente só. Por vezes gostamos de pensar que estamos, mas não é verdade. Alguns de facto estão sós, mas é por que o querem. E se o querem, então que estejam, pois talvez a sua vida dependa dessa mesma solidão. Mas eu, querendo ou não, não estava sozinho. Nunca estive, e ninguém nasce sozinho. Podemos morrer sozinhos, até porque a morte vem sozinha, mas nascemos com alguém. E eu deixei-me derreter, durante muitos dias. Não foi uma vida que ficou para trás. Foram momentos. E um futuro foi enterrado ainda mal tinha começado a crescer o presente. Mas a vida ensina-nos sempre algo, e quando não ensina, talvez seja a hora perfeita para a mudar. E eu derreti. Derreti durante dias. Dei comigo a viver por viver, deixando o meu eu, mais uma vez, a superar os obstáculos contrariado. E desta fase, nada de bom sobrou. Foram pequenos erros habituais que voltaram a nascer em mim...Acabo por destruir sempre algo belo. Destruímos sempre aquilo que mais amamos? A gargalhada é fria. Essas perguntas para mim são retóricas, cada um responda como bem entender. Somos a forma como amamos. Talvez aí encontre algum significado. Pelos menos gostava de encontrar.
Tudo o que consegui fazer, de forma útil para mim e para quem pude ajudar, foram dois meses de voluntariado, no centro de terceira idade. E toda a experiência que daí adveio foi excelente. E descobri um amor diferente. Um olhar sentido de agradecimento. Carinho. Ternura. Sempre odiei despedidas eternas, por isso acabarão por me esquecer, assim como eu me esquecerei de todos vós. Mas todos aprendemos e amamos de formas diferentes. Dei o meu melhor eu, por isso nada mais pude dar. E enquanto dei este eu por momentos deixei de derreter. A realidade é a mesma em todo o lado, por muito grande que um glaciar possa ser, por muito peso que possa pesar, pelo medo ou respeito que possa causar, o sol, esse sol que nos alimenta todos os dias, consegue ser ainda mais forte. Agora imagem toda essa força solar a tornar-se ainda mais forte com a ajuda do Homem. É imbatível. Existem males sem cura, mas com tratamento. Foi preciso estancar o sol, de forma possível.
Foi o momento certo para deixar de ligar a exemplos mitológicos. Deixar de me esconder na luz. A minha apologia, se dela alguém conseguir tirar algo de produtivo, será sempre escura...O monstro que existe neste meu ser nunca irá mudar, é o que sou, é o que faço, é o que escrevo. Não lamento ser este monstro, lamento sim ter tentado aprisiona-lo. Posso ser luz, posso querer espalhar luz, mas a verdade é que de certa forma, vivemos nas trevas.
Disse à minha irmã que temia algo de facto importante, e ela, mais consciente da realidade do que eu próprio, perguntou: Temes que o mal deste mundo vença o bem? A minha resposta foi rápida: Não, não temo. Porque o mal geral que recheia este mundo é pouco ofensivo, e o bem, apesar de pouco vai chegando para equilibrar. Terei então medo do quê?

Todos nós precisamos de algo que nos faça viver. Para alguns basta estarem vivos: respirar, comer e beber, fazer o seu dia-a-dia. Para outros basta: fazer o mal, fugir e criticar, matar ou roubar. Outros preferem: estar em contacto com a Natureza, desligados do Homem. A outros basta a sua Tribo, a sua família.
O que me basta?