segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O bem e o mal desde 1987 (76)

Não deixa de ser curioso o tempo que já despendi a tentar compreender o bem e o mal do mundo, ou talvez, do universo. A verdade é que tento saber sempre algo mais sobre este assunto. Porquê? Boa pergunta. Ou deverei dizer: excelente pergunta?
As confissões do ser humano reduzem-me à interrogação. Serão sempre mais as perguntas do que as respostas. E este texto não passa de mais um pedaço; que não é o fim, e que não continua um inicio. Apenas chegará ao fim no dia da minha morte. Com a minha morte não levarei nada físico comigo, e todas as linhas, mal ou bem usadas, serão esquecidas. Não sou estudioso de nada, não sou filósofo, e muito menos escritor. Estes pensamentos escritos podem servir de nada ou de muito pouco para o leitor. E para mim? Valem o que valem, e não valem mais do que isso. Sou constantemente interrompido pela ilusão e pela mentira. Travam de forma atroz a verdade que se vai tentando erguer, devagar, muito devagarinho. Onde reside o mal? Onde reside o bem? Todos acreditamos no bem e no mal, agora, todas as questões que se seguem são isso mesmo: questões. Está o bem e o mal dentro de cada um de nós? Estará alguma força divina a encaminhar esses mesmos lados?, tanto para um lado como para o outro?
Eu não sei. Mas queria saber. Mesmo que me bastasse esta vontade de saber, esta ganância em tentar estudar pequenos factos, uns mais isolados do que outros, a verdade é que não chega. Eu sou uma gota, sou um grão de areia.
Haverá cura? Haverá tratamento? Haverá recompensa ou castigo? Será a Lei das massas justa a avaliar o que é o bem ou mal? Possivelmente. Estará em nós, única e exclusivamente, a força capaz de conduzir os nossos passos nestes dois diferentes caminhos?
Muitas vezes caminhamos sem pensar muito nisto. O mundo gira? Gira sim. E as nossas vidas continuam sem grande tormento nestes pensamentos. Talvez toda esta minha ganância seja apenas só minha. E talvez seja tão inútil como a própria procura, que está gasta.
Serão alguns actos corrompidos pela loucura? Pela passividade? Estaremos nós à espera de algum milagre nas nossas vidas?
Eu procuro. Mas morro cedo na praia. Talvez até mesmo no mar. É como se a caneta estivesse gasta antes sequer de a utilizar.
E fico quase parado, a observar essa moeda que roda no ar, na esperança quase vã, que no fim, tudo o que sobre para reparar seja a terceira face da moeda.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mingos e samurais (77)

A invenção começa quando pego na viola que não tenho e que não sei tocar. E uma banda, pequena, onde cada músico tem um nome conhecido do público, ou mesmo que não tenha, é apreciado pelo público de forma singular, toca atrás e ao meu lado. Inicialmente tocamos músicas calmas, outras um pouco mais ritmadas. As letras são simples, tão simples quanto nós, e rimam, de uma forma que gostamos de rimar com a vida. As pessoas já nos sabem acompanhar. A maioria das letras e música têm uma sonoridade viciante, e depressa todos aprendem a cantar, e cantam connosco. Nesta indústria muitos entram pelo dinheiro que dela pode advir. Não é o nosso caso. Isto é aquilo que nos dá prazer, se deste prazer advier dinheiro, seja pouco ou muito, ou algum, será bem vindo e é apenas um anexo simpático. O que queremos é espalhar esta magia, esta música encaixada nestas letras e estas letras a encaixar na música. Misturar vários estilos musicais. Sabe tão bem estar aqui no palco...e sabe tão bem sentir que podemos estar numa espécie de trono, onde o público bebe de forma sedenta e quase cega as nossas palavras, como sabe bem sentirmos que o público e nós somos a mesma matéria, que vibra e se reflecte de forma similar através destas canções. É gratificante. Não gostariam de sentir que aquilo que vos dá prazer consegue ainda dar prazer aos outros? Que aquilo que fazem por prazer ainda por cima fazem bem? A vida devia ser sempre assim. Mas não é. E talvez seja também essa uma razão para escrever letras, construir músicas, encaixar peças. Podíamos estar sentados algures no nada, parados, olhando o nada, a respirar nada, a absorver vazio. Podíamos andar na rua, por andar, fitando o vazio. Podíamos fazer o nada que a maioria tenta fazer de forma sonâmbula e cada vez de forma mais aperfeiçoada. Mas não, simplesmente optamos por não o ser, por não o fazer. E criamos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Exaustiva repetição da tentativa da leveza do ser (78)

Todos os actos têm uma consequência. Todos. Podemos pegar na experiência da ciência, coloca-la ao nosso colo e comprovar cada questão. Se aproximar uma chama da minha mão, é certo que me vou queimar, pois alguém se queimou primeiro que eu, muitos se queimaram, e em termos físicos dos corpos, chegou-se à conclusão. A chama aproxima-se, eu queimo-me, cria-se uma queimadura que acabará por arder. Todos os actos têm uma consequência. Podemos divagar e colocar em causa a teoria do bater de asas da borboleta, apesar de ainda só sonharmos com a possibilidade de viajar no tempo. Muitos de nós, em termos menos práticos, pensamos ainda que existe Inferno e Céu, a consequência para os nossos actos e vidas presentes, sejam eles julgados (correcta ou incorrectamente) pelo o Homem.
Poderemos então definir um Homem pelo que diz? Ou apenas pelos seus actos? E se a sua capacidade de mudar o mundo, de mudar quem o ouve, baseia-se na forma inspiradora como fala? Estarão os actos mais próximos da verdade sentida pela sua proximidade com a alteração visível e palpável na realidade? Tomara ter as respostas. Tomara ter menos perguntas. Tenho ideias vãs, que tento pensar, coleccionar, encaixar, separar...Para quê? Não sei ainda. Sei que na minha vida me sinto útil questionando o que me rodeia, desde o Homem, ao Homem próximo, às religiões, a Deus. Sinto saudades de algo que nunca fui, e de poder ter vivido na Grécia antiga, onde passearia nas praças filosofando, alimentando-me apenas para viver, vivendo para amar o próximo e questionar tudo. Sem medo de actuar, sem medo de pensar mais alto. Sem medo de ter pessoas que pensassem comigo, e que juntos, tentássemos, não sei, evoluir. Sinto que quando tento pensar de facto, escrevendo, de certa forma saio do meu lugar, e por momentos, nem que seja pelo simples facto de querer subir, elevo-me um pouco. Será ilusão? Talvez.
A leveza do ser é tão pesada. Como pode o ódio e o amor ser pesado ou tão leve?
Seria uma lavagem da alma, diária, reflectida. Mas por vezes, tudo o que nos apetece é puxar o autoclismo e ver uma espiral desaparecer, dando lugar a uma calma usual...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Glaciar ao sol (79)

Fui-me derretendo. E derreti durante muito tempo. Por momentos pensei estar completamente só. Mas não estava. Nunca ninguém está completamente só. Por vezes gostamos de pensar que estamos, mas não é verdade. Alguns de facto estão sós, mas é por que o querem. E se o querem, então que estejam, pois talvez a sua vida dependa dessa mesma solidão. Mas eu, querendo ou não, não estava sozinho. Nunca estive, e ninguém nasce sozinho. Podemos morrer sozinhos, até porque a morte vem sozinha, mas nascemos com alguém. E eu deixei-me derreter, durante muitos dias. Não foi uma vida que ficou para trás. Foram momentos. E um futuro foi enterrado ainda mal tinha começado a crescer o presente. Mas a vida ensina-nos sempre algo, e quando não ensina, talvez seja a hora perfeita para a mudar. E eu derreti. Derreti durante dias. Dei comigo a viver por viver, deixando o meu eu, mais uma vez, a superar os obstáculos contrariado. E desta fase, nada de bom sobrou. Foram pequenos erros habituais que voltaram a nascer em mim...Acabo por destruir sempre algo belo. Destruímos sempre aquilo que mais amamos? A gargalhada é fria. Essas perguntas para mim são retóricas, cada um responda como bem entender. Somos a forma como amamos. Talvez aí encontre algum significado. Pelos menos gostava de encontrar.
Tudo o que consegui fazer, de forma útil para mim e para quem pude ajudar, foram dois meses de voluntariado, no centro de terceira idade. E toda a experiência que daí adveio foi excelente. E descobri um amor diferente. Um olhar sentido de agradecimento. Carinho. Ternura. Sempre odiei despedidas eternas, por isso acabarão por me esquecer, assim como eu me esquecerei de todos vós. Mas todos aprendemos e amamos de formas diferentes. Dei o meu melhor eu, por isso nada mais pude dar. E enquanto dei este eu por momentos deixei de derreter. A realidade é a mesma em todo o lado, por muito grande que um glaciar possa ser, por muito peso que possa pesar, pelo medo ou respeito que possa causar, o sol, esse sol que nos alimenta todos os dias, consegue ser ainda mais forte. Agora imagem toda essa força solar a tornar-se ainda mais forte com a ajuda do Homem. É imbatível. Existem males sem cura, mas com tratamento. Foi preciso estancar o sol, de forma possível.
Foi o momento certo para deixar de ligar a exemplos mitológicos. Deixar de me esconder na luz. A minha apologia, se dela alguém conseguir tirar algo de produtivo, será sempre escura...O monstro que existe neste meu ser nunca irá mudar, é o que sou, é o que faço, é o que escrevo. Não lamento ser este monstro, lamento sim ter tentado aprisiona-lo. Posso ser luz, posso querer espalhar luz, mas a verdade é que de certa forma, vivemos nas trevas.
Disse à minha irmã que temia algo de facto importante, e ela, mais consciente da realidade do que eu próprio, perguntou: Temes que o mal deste mundo vença o bem? A minha resposta foi rápida: Não, não temo. Porque o mal geral que recheia este mundo é pouco ofensivo, e o bem, apesar de pouco vai chegando para equilibrar. Terei então medo do quê?

Todos nós precisamos de algo que nos faça viver. Para alguns basta estarem vivos: respirar, comer e beber, fazer o seu dia-a-dia. Para outros basta: fazer o mal, fugir e criticar, matar ou roubar. Outros preferem: estar em contacto com a Natureza, desligados do Homem. A outros basta a sua Tribo, a sua família.
O que me basta?