sexta-feira, 13 de maio de 2011

8760

Ontem foi-me dado a recordar um dia de aniversário em que acordei às 7h-7h30 (hora que iria marcar a maioria dos meus dias de anos) para de seguida rumar ao Gerês. Hoje foi diferente. E pela primeira vez marcava o relógio 6h10 quando acordei com uma idade diferente. E o dia doze de Maio de 2011 era especial como sempre por ser véspera de dia 13, mas ainda para a população de Alenquer que acabaria por ver desligado o emissor de televisão analógica (televisão de sempre)…e ainda um dia diferente para o centro de atendimento da TDT – num total de um pouco menos de uma centena de pessoas preparadas para o primeiro grande teste…E para mim? O dia seria o mais normal e cansativo possível. Neste momento tenho a sensação estranha de que tudo mudou. Não por ter feito 8760 dias na terra mas por ter percebido que as coisas não estão “certas”. Como sempre os pormenores são importantes…E uma pessoa quando chega aos 24 anos tem 3 sonhos a realizar, ou se preferirem: 3 desejos…A isso eu chamo o Plano A. É então que a pessoa descobre que é impossível realizar ou ver realizado o dito Plano A. Passa então ao que eu chamo (consciente da carga melancólica dos desenhos animados e filmes) de Plano B. O Plano B, assim como Plano A é diferente para todos nós…se bem que o A pode ter parecenças. O meu plano B resumiu-se a um pacote de batatas Pringles Original (porque as amei no passado quase até ao enjoo), um SG Platina e preparar um jantar cuidado – entrada e prato principal – para oito pessoas. A relevar: uns minutos rápidos de absorção de gordura, enquanto mastigava de forma desenfreada aquele sabor tão bom e tão antigo…uns minutos de prazer e de alusão à calma e à paz sugados pela boca em direcção à alma e aos pulmões…E por fim, a única coisa que de facto valeu a pena. Não foi o jantar em si, mas sim a capacidade para alimentar, com uma tentativa de arte e engenho, de forma a saber bem, a acariciar o conforto do estômago e a curiosidade faminta da língua. O dia foi passado a trabalhar em todos os ramos possíveis…evitei parar um momento que fosse para não parar ‘para sempre’. Por isso fiz tudo o que havia para fazer de forma intensa e aplicada. Porque os meus pensamentos não podiam sequer começar a surgir de forma mais activa…quando ameaçava parar sentia logo um cheiro a queimado que antevia um incêndio…daqueles fortes que arranca pedaços a Portugal todos os verões. No dia de hoje, desde à muito tempo, sinto que perdi a vontade de escrever. E se eventualmente ainda conseguir ir escrevendo é porque preciso disto – como outros precisam de outras coisas…É em dias como este que percebo – apesar de já o temer à alguns anos – que o mais importante não é respirar para se estar vivo e querer viver. Alguns acusam-me de não querer sonhar ou de estar de costas para o sentimento…mas não me conhecem tão bem como podem pensar: continuo a procurar cada oportunidade – mas elas continuam a falhar; continuo a esperar por algo – mas o algo continua sem comparecer a este encontro. Por outras palavras: estou cansado. E perdi uma paciência que foi desaparecendo demasiado depressa.

Conhecido por exagerar de forma eficaz acabei por perceber que a minha visão do mundo não está assim tão errada. E neste idade começa-se (ou devia-se começar) a balançar várias coisas…e uma delas é o equilíbrio ou a falta dele entre: aquilo que tentamos dar ao mundo e o seu feedback; o balanço entre a capacidade de nos surpreenderem positivamente com a capacidade excessiva (e por vezes – em momentos inovadoramente tristes – surpreender pela negativa) de fazerem acções negativas; a diferença entre recordar e\ou ter saudades contraposto o presente – porque, e as pessoas não entendem isto: quando o presente é bom recorda-se mais do que se tem saudades.

A conclusão a que cheguei, relativamente à minha vida – ou como lhe prefiro chamar: à minha ausência de morte: é que cheguei ao fim de um caminho único. E ao ser único e ao chegar ao fim onde se fica? Para onde se vai? Irrita-me saber que procurei guiar-me pela luz, em caminhos que beijaram ou que mesmo se entregaram às trevas. Aos poucos começo a pensar cada vez menos em mim, até que eu : monstro e alma; desapareça na vontade e na luta, tentando ajudar o resto dos que me sobram, até ir conhecer a face do meu criador. Cheguei a esta idade. Não espero e quase não quero chegar muito mais longe. Existem várias facas cravadas no meu corpo...cravadas e soltando veneno. E mesmo que algumas deixem de soltar veneno, começam desde logo a cravar-se cada vez mais. Fui arrogante em pensar que poderia abrir um terceiro olho? Não. Apenas, mais uma vez na minha vida: antecipei-me e deixei que se antecipassem…fazendo com que fosse aberta a porta, onde com um sorriso distante nos espera do outro lado a criatura que diz com uma voz firme: Estás de volta…

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