sábado, 9 de outubro de 2010

A origem (71)

Tudo começou à muito tempo. Eram duas da manhã. Estava sentado a ver televisão...Pânico. Em pormenores que aprendi sozinho, que mais ninguém me conseguiu ensinar, encontrei palavras úteis para aqueles que me rodeiam. Existem momentos na vida que percebemos que somos alguém, momentos em que a nossa mão se estende, além a fronteira da teoria e que de facto somos importantes. São pormenores como disse. A vida é feita deles. E tudo começou nessa noite. Nunca mais fui o mesmo. Tive medo nessa noite, como vários de nós têm durante a sua rotina. Hoje continuo a temer voltar a sentir o que senti. O que mudou em mim? O monstro nasceu...antes tudo era um nome, um título, um chamamento. Depois? Era uma origem, era um acto, era um texto. Nas minhas veias corria sangue, agora corre um sangue que é frio e morno e quente, de forma similar à situação. Não direi nunca que foi a origem do mal nem do bem, foi a origem da pessoa, do monstro que me tornei para sempre. O ser humano deveria absorver a realidade, beber dos acontecimentos que o rodeiam. Eu absorvo ainda mais, eu bebo como se nunca conseguisse matar a sede. Sou feliz como sou? Não sei ao certo. Não me imagino de outra forma. Não deixo que controlem o que bebo, nem que me embebedem. O futuro é incerto. Nada é tido como absoluto, eterno. Sei unicamente que nasci e vivi toda uma vida para chegar a isto, ao que sou agora. Amante levado ao total possível, mas mais frio. Se pudesse aquecia o mundo da mesma forma que o gelava sem pestanejar.
Pedi que me desenhassem um monstro, mas não conseguiram. Procurei em todo o lado e nada me satisfez. Precisarei de colocar uma imagem na minha alma? Carimbar o sentimento? Escrever, falar, agir, tudo ao mesmo tempo? Lamento pensar que progrido sozinho, nesta batalha cinzenta entre o bem e o mal, entre o avanço e o retrocesso...Ceifo o arrependimento da mesma forma que ceifo a saudade. Não desejo a ninguém uma tentativa frustrada de matar uma Hidra,um monstro mitológico que, tendo uma de suas cabeças cortadas, fazia crescer duas no seu lugar...Onde vamos parar?

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