sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A peça que poderia faltar mas que sempre aqui esteve (75)

Demorei algum tempo a descobrir isto. E verdade seja escrita que muito procurei eu por este momento. Sabe-o Deus e sabem outras pessoas. Foi uma luta incessante, desgastante, e apesar de agora ter por um lado terminado, dado que descobri por fim a peça que pensava faltar, a realidade é que falta o mais difícil. O ser humano gosta de dar lições, injectar palestras. Não digo que as faça mal, ou apenas por fazer. A realidade é outra. Falar é simples. Fazer? Não é complicado, mas é mais complicado. Na maioria do tempo que gasto a viver, gasto-o ligeiramente revoltado, frustrado...abismado talvez. Não sei definir ao certo. Sei que tenho cometido erros. Alguns grotescos, outros mínimos. Mas também não é por isso que festejo esta descoberta. A minha descoberta teria muito mais valor se fosse sentida por pessoas que sentem da mesma maneira que eu. E essa mesma descoberta tem tanto valor, e chego a esta conclusão com toda a humildade possível, por várias razões, como outra descoberta qualquer. Não vivo em busca da receita concreta e infalível da felicidade. Até porque nesse assunto encontramos outras sub-ideias. "Está dentro de nós"; "É destino", seja lá o que tudo isso for. Não, não é isso. É perceber que estou um passo mais próximo de alguma coisa. Faltou-me alguma peça nos passos que dei? Serão algumas peças mais essenciais que outras? Queria dizer que sim, garantir que sim...Eu tentei mostrar isso a muita gente...Com gestos, palavras, teorias, razões...sonhos. Consegui trazer pesadelos quando apenas cria mostrar uma realidade melhor. Então de que me serve absorver esta peça? A razão humana esclarece-me de forma fria: as peças têm todas a mesma importância. Que seja. Esta frieza já me magoou mais. Já me magoou, já me iludiu, já me deixou dormente...e nas trevas escuras vagueei. Agora, tudo o que sei é que encontro na vossa verdade fria um pequeno aconchego, encontro uma razão de esculpir uma armadura capaz de me manter forte o suficiente para prolongar a minha loucura de ser como sou, sem medos, e de me manter fora do alcance de quem está onde não deveria estar. Por isso, com um sorriso simples mas não forçado agradeço a vossa franqueza...a vossa frieza, a vossa verdade, a vossa ideia geral da realidade...Graças a todos vós, graças ao meu Deus.
E reformulo toda a minha existência numa peça que julguei perdida. Sei que esta peça me fez falta...e duvido que a tenha encontrado para sempre. E duvido que a consiga levar a todos, quando a mim mesmo é complicado levar, entender completamente. Dizem-me com uma quase felicidade que os círculos perfeitos não existem...e que a perfeição é um mito...Noutras circunstâncias talvez tenha concordado com todos vós. E lutei contra o que pensei estar errado...longe de mim para sempre. Porque lutei tanto? Pela mesma razão que o Homem se levanta todos os dias...Se conseguirem amar os defeitos do outro, segura-los como se fossem qualidades, e aguentar outros pequenos e grandes fardos, lutando e amando de forma a que tudo consiga ter o rumo pretendido, valorizando o bom e desvalorizando o mau...então, caros leitores, cara alma,

não sentirão nada mais (e é o tudo) que um círculo perfeito nas vossas mãos.

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