sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Hoje perdi (61)

Perdi. Ando a perder todos os dias. Não o consigo evitar. Já não sei onde mais procurar. A esperança, essa que deveria ser a última a morrer, escorre-se depressa por entre as minhas mãos. Mas não é só a esperança que vai desaparecendo a passos largos. As coisas que tinha de bom, estão a desaparecer pontualmente, e tudo aquilo que não tinha de mau, começa aos poucos a entranhar-se no meu ser. Nunca pensei chegar a este ponto, a odiar-me mais do que já odiei alguém. Antigamente era um monstro em tudo aquilo que escrevia, e nesse mesmo monstro tentava compreender o mundo, compreender-me, e tentar iluminar um pouco mais a vida de quem me rodeia, em suma: era um monstro controlado e com fome de elevação; agora? Já não. O que mais temia aconteceu, estou a descontrola-lo, agora faz parte da minha vida. E com ele nada aprendo. A vida, aos poucos, está me a vencer bem...Ainda não desisti, mas nunca fui aquilo que sou agora. Costumava ficar feliz com aquilo que me tornava. E mesmo até à pouco tempo estava no lugar certo, mas ultrapassei o limite, e agora: exagero. Exagero-me.
Fiquei marcado. Esta cicatriz já só dói às vezes. Mas vai queimando forte quando queima.
Acabei por me tornar naquilo que mais temia: em vocês. Ou terei sido sempre assim? O que me está a faltar? O que me está a motivar este monstro?
Apetece-me chorar, mas tem estado difícil. Têm surgido alguns momentos, mas depois nada acontece, sobra a frustração. Maldita seja toda a frustração, seja em que ramo for, seja em que situação for.
Quero mudar-me outra vez mas tudo o que sai dos meus lábios é - Desculpa. Desculpa. Desculpa, não sei o que se está a passar. É como tocar o paraíso e o inferno no mesmo dia.
Vesti uma armadura demasiado dura; que me protege e me vai afastando ainda mais de quem amo. De quem me ama.
Eu vou morrer, e isso não me importa; mas o que estou a viver, da forma como estou a viver é que me importa. Quero que chegue o frio que cobre Lisboa, o frio que não nos deixa sair de casa; estar sentado aqui, a saborear o processo do aquecimento.
Houve um dia em que já fui sensível, que da minha maneira fiz a diferença da maioria dos demais. Esse dia já passou. Agora sou outro; e esse outro...Odeio estar e ser assim.

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